Ele era um fenômeno na base do Corinthians. Ninguém chegou perto dos 297 gols que fez antes de chegar ao profissional. As direções do Manchester United e do Chelsea abriram as portas para que se tornasse uma estrela internacional. Mas garoto teimoso, queria vencer antes no clube que amava, o Corinthians. “Não tinha contrato assinado. Poderia ir embora para a Inglaterra, de graça. O pessoal do United foi até a minha casa, conversou com meus pais, mas eu não quis ir. Tinha 16 anos. Depois, veio o Chelsea. Não iria fazer essa sacanagem com o Corinthians. Eu queria muito ser ídolo no Parque São Jorge.“ A expectativa em relação a Lulinha era muito próxima do que acontece hoje, com Endrick. Aos 34 anos, jogando na Indonésia, o próprio ex-jogador corintiano vê a óbvia semelhança. “Todos estão esperando que o Endrick seja o ídolo fantástico que o futebol brasileiro está precisando. Ainda mais depois de tanto tempo sem conquista de Copa do Mundo. “Só quem passou por isso pode avaliar o quanto é pesado para um garoto de 17 anos. “O meu conselho para o Endrick é fazer o contrário que eu fiz.“ Lulinha confessa que se deixou levar pela empolgação da mídia. “Eu tinha um empresário, o Wagner Ribeiro. E só. O Endrick tem empresários, um estafe muito grande que o protege, orienta, o prepara. Cada frase é pensada, calculada. Eu, não. Fui um menino exposto aos jornalistas que queriam manchetes.“. Lulinha lembra da sua frase inesquecível. E que o atormentou toda a carreira. “Me perguntaram quais eram as minhas características. Falei que tinha uma arrancada parecida com a do Kaká e sou habilidoso como o Ronaldinho Gaúcho. Foi empolgação juvenil. E aquilo acabou me marcando, me prejudicando muito. As cobranças foram muito fortes, pesadas. Sofri muito.“ Para completar, foi lançado no pior momento da história do Corinthians. Em 2007, na campanha que levou o time ao rebaixamento para a Segunda Divisão. “Não houve preparo adequado. Foi enorme responsabilidade para mim. E o time não era bom (era fraquíssimo). Com a queda, acabei assumindo uma culpa exagerada. Tudo ficou muito difícil para mim no Corinthians.“ Em 2008, tudo mudou no Parque São Jorge com a reformulação implantada por Mano Menezes. O espaço reservado a Lulinha foi minguando. Até que, em março de 2009, chegou Ronaldo Fenômeno. “Ele levou a modernidade ao Corinthians. Mas era um meninão. Adotou a mim e ao Dentinho, meu maior amigo no futebol, como 'filhos'. As brincadeiras eram pesadas. Com direito a trotes inacreditáveis. Lembro quando o Souza 'Caveirão' o agarrou e segurou no chão. E pediu para que eu e o Dentinho déssemos tapas na cara do Ronaldo. Demos. “Era surreal estar estapeando o Ronaldo. Mas ele depois se vingou. Nos trancávamos no banheiro para fugir dele. Era uma loucura.“ Só que dentro de campo, Lulinha virou um jogador dispensável. O detalhe era que Wagner Ribeiro havia 'amarrado' um contrato excelente, na época, para Lulinha. Cinco anos, recebendo R$ 150 mil mensais. Se o Corinthians quisesse dispensá-lo, teria de pagar o restante do compromisso. E o atleta passou a ser emprestado. Estoril, Olhanense, Bahia. Depois que o contrato com o Corinthians acabou, começou sua vida de nômade. Ceará, Criciúma, Bragantino, Botafogo, Mogi Mirim. Foi quando decidiu sair de vez do Brasil. Foi jogar na Coréia do Sul, Emirados Árabes, Chipre, Japão até que chegou ao Madura, clube da Indonésia. Aos 34 anos, pensando em tudo o que viveu, Lulinha faz uma tranquila confissão. “Eu estou muito feliz com a minha carreira. Com o que consegui na vida. Sou uma pessoa de família humilde, que não tinha muita perspectiva na vida. Graças ao futebol, eu e minha família estamos muito bem. “Quando falam que minha carreira não deu certo estão errados. “Para a minha expectativa deu mais do que certo. “Nunca fui responsável pela expectativa dos outros...“ REDE SOCIAL Instagram: @cosmerimoli
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