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Linha Direta - Justia: Bateau Mouche

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Programa do dia 29/07/2004 Faltavam 15 minutos para a meia noite quando o solavanco do barco despejou mais de 150 passageiros nas águas frias da saída da Baía de Guanabara. Era o último dia de 1988. Festa interrompida, vidas interrompidas, o naufrágio do barco Bateau Mouche IV marcou de forma trágica a virada daquele ano. Entre os mortos, a atriz Yara Amaral. Construído para ser uma lancha com capacidade para 20 pessoas, o Bateau Mouche mudou de mãos algumas vezes até ser comprado pelo grupo de empresários que o exploravam como barco de turismo, em passeios pela Baía de Guanabara. Para que sua capacidade fosse aumentada para 150 pessoas, entre passageiros e tripulantes, os empresários contrataram Mário Triller, um engenheiro civil, para levar adiante uma grande reforma que acabou abalando de forma irremediável a estabilidade da embarcação. Entre as alterações indevidas realizadas no barco, conforme seria comprovado depois em perícia técnica, estava a transferência de duas caixas d¿água do porão para o convés superior, que, por sua vez, ganhara também uma laje de concreto de quatro toneladas. Os sobreviventes começaram a ser resgatados cerca de cinco minutos após o naufrágio por dois barcos particulares que - assim como o Bateau Mouche - rumavam para a praia de Copacabana para assistir à queima de fogos: a traineira Evelyn & Maurício, do pescador Jorge Souza Viana, e o iate Casablanca, do empresário Oscar Gabriel Jr. Diversas outras embarcações particulares passaram pelo local e, apressadas para não perder os fogos, ignoraram as dezenas de vítimas que agonizavam na água. Iniciava-se ali um outro martírio: o da impunidade. O incidente desencadeou uma infinidade de ações nas esferas criminal, cível e federal, além de processo na Marinha, visto que o barco, uma hora antes do naufrágio, foi parado e vistoriado por uma lancha da polícia marítima. As 26 ações judiciais reinvindicam um total de U$60 milhões em indenização em favor dos parentes das vítimas. Quase 16 anos depois, mais de 40 famílias ainda aguardam que a Justiça brasileira aponte definitivamente os culpados e os obrigue a pagar pelo sofrimento provocado. No primeiro julgamento, conduzido pelo juiz Jasmim Simões, apenas o comandante do barco, Camilo Faro, e o engenheiro civil Mário Triller foram responsabilizados. Ambos morreram no naufrágio. No segundo julgamento, o então presidente da 4ª Câmara Criminal, Antônio Carlos Amorim, condenou dois sócios minoritários a quatro anos em regime semi-aberto. Quando o mesmo magistrado veio integrar os quadros do escritório de advocacia que defendia o interesse dos acusados, determinou que os advogados da empresa abrissem mão do caso. Os processos cíveis ainda estão pendentes na Justiça já que os réus impetraram vários recursos. Quanto às ações federais - que foram abertas após ser descoberto que os sócios possuíam várias contas frias e fantasmas, além de terem sonegado impostos por anos - renderam a condenação de quatro donos do Bateau Mouche, que também impetraram vários recursos e nunca foram presos. Indignados, frustrados, agredidos na sua cidadania, parentes dos mortos e sobreviventes ainda se vêem impedidos de sepultarem emocionalmente os seus. E resignam-se com o acalanto sofrido da atriz Nathalia Timberg, amiga de Yara Amaral: “Mantemos vivos os nossos mortos enquanto lembramos deles“.

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