A democracia não caiu do céu. Demandou muita luta. Custou o sacrifício de muitos brasileiros e brasileiras, desde os tempos do Brasil-Colônia até hoje. Esta história viva foi escrita por todos que durante cinco séculos, lutaram pela justiça e pela liberdade. Por índios como Sepé Tiaraju , por negros, como Zumbi dos Pamares, Lucas Dantas, Luisa Mahim e os líderes da Revolta dos Malês. Por Tiradentes, Frei Caneca, Cipriano Barata, Bárbara Alencar e por todos os que lutaram pela independência do Brasil e pela República. Pelos escravos que fugiram em massa das fazendas e pelos abolicionistas como Castro Alves, Luís Gama e José do Patrocínio. A história da democracia no Brasil foi escrita também pelas revoltas, greves, campanhas políticas e movimentos sociais que sacudiram a República: A Revolta da Chibata ... A Revolta da Vacina ... A Greve de 1917 ... O tenentismo e a Coluna Prestes ... A luta pela entrada no Brasil na guerra ... A Campanha do Petróleo é Nosso ... A Greve dos 300 mil de 1953 A comoção popular no suicídio de Getúlio Vargas A eleição de Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília e a interiorização do desenvolvimento E a vitoriosa campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola, E a luta pelas reformas no governo de João Goulart. Em 1964 um golpe militar derrubou o presidente constitucional. Muitos deram suas vidas para que o país reconquistasse a democracia, entre eles Edson Luís de Lima Souto, Marighella, Lamarca, Iara Iavelberg, Rubens Paiva, Honestino Guimarães, Helenira Rezende, David Capistrano, Vladimir Herzog, Manoel Fiel Filho, Zuzu Angel, Santo Dias. Mais de 400 brasileiros foram assassinados pela ditadura. Dezenas de milhares foram presos, torturados, exilados. Nunca serão esquecidos. Como esquecer os artistas, compositores, cineastas, intelectuais, religiosos que resistiram à ditadura? Como esquecer as grandes passeatas estudantis e as greves operárias de 1968? Ou a resistência armada contra o regime militar? Ou o trabalho de formiguinha nos bairros, na igrejas, e nos sindicatos durante os anos de chumbo? Como não lembrar da anti-candidatura do Dr. Ulysses Guimarães, da estrondosa derrota da ditadura nas eleições de 1974 e da ação incansável da OAB e da ABI? Foram tempos de muita luta. Da Campanha pela Anistia ... Das grandes greves dos trabalhadores... De firmeza e indignação do povo, diante dos atentados terroristas promovidos pela ditadura... Da Campanha das Diretas-Já, o maior movimento de massas da nossa história. Dez milhões de brasileiros saíram às ruas exigindo votar para presidente e mandaram os generais de volta para os quartéis. Na Assembleia Constituinte, o Brasil exigiu mais democracia e mais direitos sociais. Respeito aos direitos humanos, e também ao meio ambiente. Igualdade entre homens e mulheres, fim da descriminação social, proteção à criança e ao adolescente. O recado foi claro. O povo não queria uma democracia formal, só de fachada. Queria uma democracia para valer. Foi uma época de sonhos e de apostas no futuro. Mas logo veio o troco dos que não queriam perder privilégios. Quantos massacres não chocaram o país? Nas fábricas ... Nas grandes cidades e nos campos ... Contra a população pobre ... Contra meninos e meninas de rua ... Contra presos sob a guarda do estado... Contra trabalhadores sem terra... Quantos mártires o Brasil não teve de chorar? Margarida Alves ... Marçal de Souza Padre Josimo ... Chico Mendes ... Na época da hiper inflação muita confusão, vários planos furados, enormes decepções. Finalmente o país conseguiu derrotar a inflação e reconquistara confiança na moeda. Foi uma conquista importantíssima. Mas, infelizmente, na cartilha do neoliberalismo, dominante na época, o povo não passava de um detalhe. Quem mandava na economia era o Fundo Monetário Internacional, o FMI. O Brasil quebrou três vezes. Era o país do desemprego, baixos salários, falta de oportunidades, confinamento da população pobre e preta nos guetos. Foram tempos de grande bronca social e forte revolta política. O país parecia estar à beira do abismo. Mas, graças à democracia, encontrou forças para avançar. Nas urnas, nas ruas, nos sindicatos, nos movimentos sociais, ele construiu o caminho das mudanças: crescimento econômico, inclusão social, redução das desigualdades regionais. E assim, em 2002, o país elegeu o primeiro operário presidente da República. E reelegeu-o em 2006. Em 2010, também pela primeira vez em nossa história, entregou a uma mulher o comando do país. Ela foi reeleita em 2014. Tempos de esperanças. Tempos de oportunidades. Tempos de mais democracia. O Brasil entrou no século XXI apostando no futuro e confiando em si mesmo. Em 2016, aqueles que sempre temeram o voto popular protagonizaram um novo golpe contra a democracia e afastaram a presidenta legítima. É importante lembrar: a democracia nunca caiu do céu.
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