O Fedro é a porta de entrada mais completa e mais complexa à obra platônica. Aqui, o Platão investiga o proveito de se fazer filosofia por escrito (e não apenas oralmente), justamente o único ponto de discordância que é possível ver entre ele e seu personagem Sócrates. Através do arco dramático do texto, ele apresenta a relação entre a teoria da reminiscência e Erôs, talvez as suas duas ideias mais convincentes. Inesperadamente, faz as pazes com os sofistas, que cita como influências decisivas para a ‘retórica verdadeira’, ou seja, a filosofia. Com sua teoria erótica, une, numa só tacada, o desejo humano e o movimento do cosmo... é infinita a lista de ideias cuja dança é o diálogo. A complexidade do Fedro é reconhecida por seu autor como um possível problema, no entanto, e por isso ao final ele deixa, do seu jeito críptico habitual, uma ‘instrução de leitura’: não se deve ler textos, e em especial textos de filosofia, sozinho. A leitura solitária é dogmática e tem o risco de levar ao solipsismo. É necessário que alguém guie o ritual filosófico que é o trabalho com um texto: alguém que conheça o texto por dentro, saiba quais são seus rincões e como se relacionam, não para que transmita suas doutrinas adequadamente a quem ainda não o conhece, mas para mostrar que todo discurso que produzimos é fruto de escolhas, e essas escolhas tornam-no mais ou menos inteligível e (portanto, na aposta platônica) verdadeiro. Deve-se ler o Fedro num curso, parece sugerir seu autor; eu gostaria de, tanto quanto sou capaz de entendê-las, seguir as instruções de Platão. Edições recomendadas do Fedro: Penguin/Companhia das Letras, tradução por MCG Reis, 2016. EdufPA, tradução por CA Nunes, diversas edições. Penguin, trad. C Rowe, 2005. Coordenação Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho Ministrante Antonio Lessa Kerstenetzky Programa
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