A Mesma Parte de um Homem (2021) pode ser interpretado como metáfora sobre a dificuldade de realizar o luto. Quando uma família patriarcal humilde perde o único referencial masculino, tem dificuldade de aceitar a nova situação. Há perigos lá fora, ainda que invisíveis: animais fazem barulho nas redondezas, fala-se em assassinatos cruéis dos vizinhos. Por isso, a mãe Renata (Clarissa Kiste) e a filha Luana (Laís Cristina) se fecham em casa, trancam as portas, recusam a aproximação de outros homens. Estas mulheres sentem que, sem o escudo masculino, podem ser invadidas e violadas a qualquer momento. Em consequência, as duas criam a figura de um substituto que permita continuar a vida familiar sem se confrontarem à morte do pai e marido. O filme parte de um diagnóstico tão doentio, no sentido estrito do termo, quanto humano, a respeito das relações de dependência, afeto e exploração entre familiares. No
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