Também conhecido como “Sombras dos Ancestrais Esquecidos“, o filme mais célebre de Sergei Paradjanov conta a história dos amores contrariados de dois jovens de famílias rivais, que acabam por se reunir na morte. Mas dizer que este filme louco e poético “conta uma história“ é limitar o seu alcance. Inspirando-se em lendas ucranianas, Paradjanov também se inspirou nas ricas tradições folclóricas da região, na música, nas cores, nos ritos. Em perpétuo movimento, o filme é um prodigioso emaranhado de imagens de grande beleza, que contam em filigrana a história dos amores infelizes dos protagonistas. Sombras dos Ancestrais Esquecidos (também chamado Cavalos de Fogo, 1964) é uma das obras-primas incontestáveis de Paradjanov, ao lado dos grandiosos A Cor da Romã (1968) e A Lenda da Fortaleza Suram (1984), filme dedicado aos soldados georgianos mortos em combate. Mas em um caminho diferente, o diretor fez de Sombras dos Ancestrais… uma história mais próxima do que podemos chamar de “logicamente narrativa”, algo que nos outros filmes desaparece em meio ao labirinto de símbolos. Este é um filme sobre a vida em movimento, o olhar de Paradjanov para a existência humana como um organismo mítico, cheio de significados e dotado de lirismo e tragédia. A história de Ivan e Marichka é o ponto a partir do qual se estende uma cadeia de relações prévias e posteriores ao amor infeliz do casal. As famílias inimigas, as mortes resultantes dessa rivalidade e o amor que nasce a partir daí são ecos shakespearianos, mas a comparação com a história do bardo para por aí. O filme segue por uma linha fora de qualquer melodrama. O trabalho no campo, as necessidades humanas e o compromisso com as tradições locais falam mais alto que o sentimentalismo vazio, muitas vezes presentes em obras que tratam do mesmo assunto. O roteiro acompanha o protagonista Ivan desde a infância e as alegrias e infortúnios de sua vida são poeticamente filmados, numa mistura de homem, natureza e espiritualidade.
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