Veneza aos gatos Lisboa às moscas e Veneza aos gatos… (os pombos da bondade só conspurcam a praça de S. Marcos) … ao gato perna alta que não vem quando o chamas, ao contrário da patrícia mosca, que não era para aqui chamada, mas logo te soprou os últimos zunzuns mal chegaste a Lisboa. O gato de Veneza não te dá pretextos para miares o que te vai na alma, nem os sacros temores da miaulesca esfinge rilkeana. Não é um gato é um perfil de gato tapando a saída da calleta. O gato veneziano é gato sem regaços e sem selvajaria. De Veneza o gato é sempre muitos gatos que vão à sua vida… … como tu, afinal, não vais à tua. (De Veneza a Lisboa, num zunido, já trazias a mosca no ouvido…) Alexandre O’Neill (1924-1986) Poesias Completas & Dispersos (edição de Maria Antónia Oliveira)
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